No passado 9 de março, Grupo Vía realizou o seu primeiro evento para arquitetos em Lisboa, no qual reuniu uma seleção de alguns dos mais proeminentes ateliês portugueses para exibirem as suas mais recentes obras. O evento foi também uma oportunidade para refletir e debater os novos desafios ambientais e suas implicações para a arquitetura.
Na reunião, os participantes puderam debater o desenvolvimento do setor turístico em Portugal, os investimentos em áreas urbanas, o impacto da pandemia na arquitetura e o tipo de cidade que poderia surgir no futuro.
João Leitão, fundador do atelier ALA.RQUITECTOS juntamente com Mafalda Ambrósio, apresentou dois projetos realizados para a Fundação Acreditar, ambos na sequência da obtenção do 1º lugar nos respectivos concursos realizados.
Ambos os projetos, concretamente a Casa Acreditar no Porto, já construído, e a Casa Acreditar em Lisboa, em construção, se destinam ao acolhimento e apoio das famílias de crianças em tratamento oncológico.
Em ambas as intervenções ficou demonstrada uma preocupação na criação de espaços adequados às famílias, traduzindo-se numa atenção redobrada e sensível sobre as escalas e as relações entre os espaços, incluindo o exterior, assim como nos materiais utilizados, a par de uma pesquisa que permitiu a aplicação de soluções de proveniência nacional, de modo a possibilitar uma execução com custos controlados.
Miguel Marcelino apresentou três projectos com intervenções sobre pré-existências com diferentes escalas a nível de espaços e de presença territorial, evidenciando-se diferentes níveis de operatividade perante aqueles, ficando clara a importância do acto de questionar o processo de projecto, como uma metodologia. Finalmente, as diferentes intervenções e métodos operativos complementaram-se, como se estabelecessem diálogos entre possibilidades.
O primeiro projecto mostrava a remodelação do Casal Saloio, em Cascais, centrado sobre a reabilitação de um conjunto antigo de edificações, resultado de sucessivas alterações e modificações, para agora servir como museu, após uma intervenção de depuração e detalhe.
O segundo projecto, a intervenção sobre o Campo de futebol da Lage, em Oeiras, revelou uma operação mais radical, de landscaping, na qual uma acção clara e incisiva sobre o terreno acaba por estabelecer o essencial do projecto.
O último projecto, a Casa do Espargal, em Oeiras, mostrou uma intervenção de reabilitação sobre uma habitação unifamiliar de pequenas dimensões, na qual a profunda limitação da implantação e dos espaços implicou um exercício de rigor na relação entre estes.
Paulo Costa e Patrícia Marques, fundadores do atelier SITESPECIFIC, apresentaram dois projetos centrados sobre intervenções de reabilitação de património, com repercussões ao nível do património imaterial associado.
O primeiro projecto, a reabilitação da Casa de São Lourenço em Manteigas, assentava sobre uma análise da evolução do edifício ao longo da sua história, em função de diferentes ampliações, correspondendo a sua intervenção (2018) à adição assumida de uma layer contemporânea sobre as restantes, reforçando o seu carácter evolutivo.
O segundo trabalho apresentado correspondeu ao projecto de instalação do Museu Nacional da Música (MNM) no Palácio de Mafra, no seguimento do 1º lugar no respectivo concurso público, revelando igual cuidado e respeito na intervenção sobre o património, neste caso um edifício do século XVIII classificado como Património Mundial. A sua intervenção centra-se sobre um meticuloso processo de recuperação da essência espacial do edifício, suprimindo-se os elementos espúrios resultantes das sucessivas ocupações e intervenções no edifício ao longo do tempo.
Sérgio Antunes, fundador do atelier AURORA ARQUITECTOS, juntamente com Sofia Couto, apresentou seis projetos, praticamente todos centrados no programa de habitação unifamiliar, à excepção do primeiro, correspondente a uma escola de música em Santo Tirso.
A apresentação teve por base um conceito – Pivot – que o atelier definiu como transversal ao entendimento dos seis projetos.
Este conceito surge nos diversos projetos através de diferente abordagens: no primeiro projecto – Escola de música – surge como um espaço de ligação, radical na sua linguagem, entre as diferentes alas do conjunto; no segundo e terceiro projetos – Edifício escadinhas Marquês Ponte de Lima e Apartamento Sousa Martins – como planos amovíveis que transformam o(s) espaço(s), e deste modo o Habitar; no quarto projecto – Apartamento Bela Vista – num espaço congregador das diversas vivências; no quinto projecto – Edifício na Costa do Castelo – num poço de luz que define uma nova verticalidade no edifício, transformando a relação entre pisos; e finalmente, no último projecto – Quatro Edifícios na Avenida Brasil – num piso luminoso em que se estabelecem as áreas comuns, “ensanduichado” pelos pisos superior e inferior mais opacos.
Cristina de Mendonça, fundadora do atelier EMBAIXADA, juntamente com Paulo Albuquerque Goinhas e Nuno Bernardo Griff, apresentou o projecto de habitação colectiva de renda acessível em Marvila (OR13), na sequência da obtenção do 1º lugar do concurso realizado.
A apresentação iniciou com o relato de visitas a algumas obras de Le Corbusier, com especial enfoque do trabalho deste sobre a relação entre as medidas modulares e o espaço, visita que mais tarde o atelier compreendeu ter servido de base para uma série de reflexões e respostas sobre o projecto apresentado.
O projecto de habitação colectiva, desenvolvido para a Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU), possui uma escala a nível urbano, compreendendo uma área de intervenção que se extende por uma faixa com mais de 400 metros, com vista para o vale de Chelas, e foi apresentada a extensa investigação do atelier sobre a operação no território, bem como o desenvolvimento modular efectuado sobre as tipologias e o método construtivo do conjunto, incluindo uma pesquisa sobre a proveniência das soluções e materiais, com vista à exequibilidade financeira do projecto.
Inês Vieira da Silva e Miguel Vieira, fundadores do atelier SAMI, apresentaram quatro projetos, dois na cidade de Setúbal, onde funciona o atelier, e os dois restantes nas ilhas das Flores e do Pico, no arquipélago dos Açores.
Os primeiros projetos, uma capela e um conjunto de habitação colectiva, tratavam-se de edificações novas, regeneradoras das paisagens urbanas desfiguradas em que se inserem, no primeiro caso tirando partido de forma engenhosa de escassos recursos.
As intervenções nas Flores e no Pico, concretamente a reabilitação das edificações em ruína de uma antiga aldeia, e a criação de uma adega localizada na paisagem vinícola, classificada como Património Mundial da Unesco, revelaram uma análise e apropriação meticulosas sobre o sítio e as características únicas do seu entorno, nomeadamente através da utilização dos materiais e soluções construtivas locais, tendo por objectivo uma clara integração nas paisagens únicas em que se inserem.
O evento começou às 16h00 com a receção dos participantes, seguida de uma série de palestras e debates com os arquitetos. Terminou com um cocktail final às 20h00 onde os participantes puderam conversar e compartilhar suas ideias.
Para mais informações sobre o evento, entre em contacto com o Grupo Vía Portugal.